segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Lembranças de uma jovem africana

Meu nome é de Adnerb,sou africana. Nasci na cidade de Johannesburgo,na África do Sul . Sou filha única.Minha casa ficava perto de uma praia. Desta praia sobrevivíamos meu pai,minha mãe e eu.
Vivi muito feliz até meus 15 anos,porém numa manhã acordei sentindo muitas dores nos pés e nas mãos. Ao abrir meus olhos,percebi que meus pés e mãos estavam amarrados. Olhei para os lados procurando meus pais. Só tive tempo de vê-los sendo arrastados por homens fortemente armados.
Levantou-me do chão,desamarrou meus pés e saiu me empurrando,não tive escolha, a não ser obedecê-lo. Não sabia o que estava acontecendo. Tive muito medo de morrer.
Andamos um pouco pela areia da praia e então avistei um grande navio. O homem me empurrou para dentro dele e me levou para o porão. Lá encontrei vários jovens e muitos eram meus amigos da praia,ou seja,filhos de pescadores.
Após algumas horas,quando o porão estava completamente lotado de jovens negros,o navio começou a se locomover.
Senti muita tristeza,não sabia onde estavam meus pais,não sabia para onde estávamos indo,não sabia o que seria de minha vida dali pra frente.
Viajamos muitos dias e noites,muitos jovens morreram e foram atirados ao mar. O medo e a tristeza permaneciam em meu coração. O porão onde ficávamos era frio e escuro,pois ficávamos bem próximos à parte onde havia os remos que virados pelas mãos fortes ou fracas dos negros,faziam o navio andar. Todos nós tínhamos que remar. Quinze a vinte homens armados de carabinas nos forçavam a esse serviço .Em alguns momentos fazíamos a troca para descansar um pouco. Além disso também tínhamos que limpar todo o navio.
Ancoramos em um país chamado Angola,onde mais jovens negros foram arrastados até o navio. Alguns negros do navio que estavam doentes,foram abandonados a mercê do próprio destino naquele país.
Continuamos a viagem. A cada dia que passava eu sentia o desespero tomar conta de mim,tive vontade de me matar. Alguns dos homens que nos vigiavam obrigavam as jovens a fazerem sexo com eles, se tentássemos impedi-los eles nos espancavam. Teve umas jovens que foram assassinadas brutalmente. A comida que nos serviam era de péssima qualidade:fubá com carne seca,etc.
Meu corpo e minha alma estavam despedaçados. Não aguentava mais ver meus companheiros apanhar e também de ser violentada e torturada todos os dias. Chegava a pedir que me matassem, mas eles apenas riam e cuspiam no meu rosto e continuavam a me violentar sexualmente.
Várias semanas se passaram e então chegamos no estado da Bahia no Brasil. Os homens novamente amarraram nossos braços e nos levaram a um lugar onde nos amarraram em troncos. Lá consegui ver meus pais sendo levados por um homem branco de chapéu. Gritei por eles,porém um dos homens que nos vigiavam me deu uma bofetada no rosto.Depois disso nunca mais os vi.
Ouvi esses homens dizerem que logo seríamos comprados,pois éramos jovens e fortes e foi o que aconteceu.
Dois senhores bem vestidos chegaram perto de nós,ordenou-nos que abríssemos a boca,para que vissem nosso dentes,apalparam nosso corpos e decidiram ficar com cinco rapazes e cinco moças,sendo eu uma delas.
Fomos para uma grande fazenda,onde havia várias plantações. Lá trabalhávamos na lavoura de café, na plantação de cana-de-açúcar,mandioca e outros mantimentos. Apanhamos muito naquele lugar. Lá também fui forçada a fazer sexo com o feitor da fazenda e até com o dono dela. Passei por muito sofrimento. Até que um dia,fugi para o quilombo com outros jovens.
Todo sofrimento que passei foi causado por outra raça. Isso dói muito ainda,porque perante Deus todos somos iguais e ninguém tem o direito de fazer o outro sofrer.

2 comentários:

  1. Escrevi este texto para uma atividade proposta na pós de eduçação no campo.

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  2. Olá Brenda, parabéns pelo seu blog, os textos são de uma criatividade ímpar e significativa. E o que é de bom gosto eu sigo com todo respeito. Aproveito a oportunidade para agradecer a visita ao meu blog e pelo comentário. Espero que volte sempre e participe. Obrigado!

    Bom feriadão e uma semana cheia de novidades.

    Abraço.

    André

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