domingo, 17 de maio de 2009

Um dia diferente.. Texto narrativo à moda de Machado de Assis

A realidade chocou Ana. Vivendo em um mundo onde tudo parecia fantasia, de tão perfeito, não permite que a dor e a tristeza do mundo alheio tenham espaço dentro de si. A casa organizada, com cinco espaçosos quartos, três suítes, duas salas, uma área de serviço enorme, uma linda varanda de frente para um jardim florido ,etc., o orçamento e às emoções controladas, o casamento estável , o amor dos filhos e do marido fazem com que a sua vida tenha essa aparência perfeita.
Foi num dia quente de primavera, semana de natal, igual a essa, que Marta e Ana marcaram de se encontrar na praça do centro da cidade para comprarem, juntas, os presentes de natal.
O trânsito tumultuado impediu que Marta,a amiga de Ana, chegasse à hora combinada. Ana, como sempre pontual, chegou e sentou para esperá-la , absorta a tudo ao seu redor. Apesar de ter passado pouco tempo do horário habitual do almoço, a praça estava repleta. Lá se encontravam os senhores que faziam uso de jogos para não perceberem a inutilidade de suas horas nem permitirem pensamentos de um passado ativo.O barulho ininterrupto dos veículos que por lá passavam e as vozes dos transeuntes pareciam não ultrapassar os limites entre Ana e o mundo real.
De repente, ao olhar para um dos lados em busca da pessoa de Marta, vê um homem magro, desgastado pelo tempo e desfigurado pela vida. Um machucado antigo em uma das pernas teima em não cicatrizar, parecendo prever que é o único sustento do seu dono. Toma pequenos goles de aguardente de uma garrafa escura,para , quem sabe, anestesiar a alma. O quadro que vê toca os sentimentos de Ana e a faz sentir-se culpada por ser tão feliz. A miséria alheia e o sentimento de impotência fundem-se em uma grande angústia. Talvez tivesse sido melhor ter marcado com Marta em no shopping. Mas... por que fugir mais uma vez da realidade que a cerca? Não será agora, a hora de encarar o mundo com tudo que nele existe ?
Neste momento, a funcionária de um bar ao lado da praça vem trazer ,embrulhado numa sacola plástica, restos de comida para alimentá-lo. Ele toma mais um gole de seu antídoto e come o que foi lhe dado .Ana se pergunta se seria isso o que deveria fazer para redimir-se diante do mundo.
Marta chega desculpando-se. Ana comenta com ela o que viu a as reflexões que a tormentam.
-Não se angustie ,Ana. Não será você a pessoa que irá resolver todos os problemas sociais que existem. Vamos às nossas compras antes que as lojas fiquem intransitáveis.
Ana foi.Com ela foi o sentimento de que alguma coisa precisaria mudar no seu modo de ver e interagir com a vida .Rapidamente.

Um comentário:

  1. Legal seu blog, gostei do título... Os textos e poemas são bem interessantes.
    Isso aí!
    Uum abraço pra ti!

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